17 de abril de 2024

Como o hábito de ler pode contribuir na utilização de ferramentas de IA?

Hoje, na era digital, onde algoritmos aprendem, decidem e interagem, a Inteligência Artificial (IA) já é uma força transformadora em todos os aspectos. Paralelamente, o hábito antigo de ler, e principalmente entender, continua a desempenhar um papel importante na expansão do conhecimento e da compreensão.

A IA está redefinindo a maneira como consumimos informações e criamos conteúdos. Desde recomendações personalizadas até assistentes virtuais que simplificam nossas vidas diárias, elas moldam todo nosso ambiente digital de maneiras inimagináveis até pouco tempo atrás. No entanto, seu verdadeiro potencial é realizado quando se torna uma extensão das habilidades humanas, em vez de um substituto. É aqui que a leitura entra, muito, em jogo!

A leitura complementa a velocidade e eficiência da IA. Enquanto a IA oferece este acesso instantâneo a uma vasta quantidade de dados, a leitura permite uma compreensão mais profunda e contextualizada. Ao ler um livro, um artigo ou uma matéria de revista, somos desafiados a processar ativamente informações, a questionar suposições e a formar nossas próprias opiniões e caminhos. Esse processo cognitivo é fundamental para o desenvolvimento do pensamento crítico e da empatia – habilidades que nenhuma IA pode replicar completamente (por enquanto).

Na leitura, ainda, encontramos narrativas que capturam as complexidades da experiência humana, histórias e pessoas que nos inspiram, nos desafiam e nos ajudam a entender melhor a nós mesmos e aos outros, além de colaborar nessa construção contínua de vocabulário. Essa conexão emocional e intelectual é única para o ato de ler e permanece fora do alcance da IA.

Porém, isso não significa que a IA e a leitura estejam em competição. Pelo contrário, elas podem e devem coexistir de maneira harmoniosa. Ou seja, ao invés de analisarmos a ascensão da IA como uma ameaça à leitura, devemos enxergá-la como uma oportunidade para expandir e aprimorar essa nossa habilidade.

Recentemente, um artigo da Folha de São Paulo escrito pelo advogado Renato Ochman comenta que nunca o conhecimento esteve tão acessível mas, ao mesmo tempo, assuntos importantes são analisados de forma muito superficial. As pessoas estão lendo menos. E, ao ler menos, deixam de ter todos os benefícios que citamos acima. Como saber, então, se a IA não está alucinando? Como furar a bolha do algoritmo?

Já existem pesquisas que mostram que o fato de lermos cada vez mais em telas, e a prática de apenas “passar os olhos” em vários textos e postagens online podem estar acabando com a nossa capacidade de entender argumentos complexos, de fazer uma análise crítica e até mesmo de criar empatia por pontos de vista diferentes do nosso. Podemos acrescentar a isso os vídeos curtíssimos e a possibilidade de pedir resumos para IA que, claro, economizam tempo, mas perde outras cositas más.

Nós não nascemos sabendo ler. Essa é uma habilidade que precisamos desenvolver e aprimorar. E por mais que a IA nos ajude em centenas de tarefas, e possa nos fazer crescer, é importante perceber que para tirar esse máximo de proveito precisamos estar preparados tanto para fazer as perguntas certas quanto para fazer uma análise crítica das respostas. Quem, de fato, não tiver nada a agregar, corre sério risco de ser mesmo substituído por um robô.

O cenário atual é, no mínimo, delicado. Algumas pesquisas recentes mostram que o número de leitores no Brasil cai anualmente, em todas as classes, e o consumo de livros, consequentemente, segue o mesmo percurso. De acordo com o Centro de Pesquisas em Educação, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), em parceria com a plataforma de leitura Árvore, por volta de 66,3% dos alunos brasileiros de 15 e 16 anos, não leem livros acima de 10 páginas.

E, nos Estados Unidos, os novos profissionais que entram no mercado vêm apresentando vocabulário cada vez menor. De acordo com as pesquisas norte-americanas – “Vocabulary Knowledge of Adolescents in the 21st Century” e “The Decline of Vocabulary in the United States” – há um declínio no vocabulário dos jovens estudantes nos últimas décadas. E um dos motivos disso é a redução (ou até falta) do hábito de ler.

Ou seja, diante de uma ferramenta incrível, poderosíssima, que nos coloca diante de uma quantidade absurda de informações, corremos o sério risco de não saber o que fazer com ela.

Referências:

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/02/o-aprimoramento-da-ignorancia.shtml

https://www.bbc.com/portuguese/salasocial-47981858

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest