Nunca tivemos tanto acesso à informação – e a outras pessoas – como hoje. E justamente por estarmos tão mergulhados nesse ambiente, bombardeados constantemente por novas notícias e mensagens, que o bom senso e a crítica se fazem tão importantes. Esse poder de discernimento é nosso colete salva-vidas.
Já constatamos, na prática, o poder das fake news. E é sempre bom lembrar que isso não é novidade. A novidade é sua velocidade e o alcance, que vem aumentando exponencialmente graças às novas tecnologias, inclusive a inteligência artificial. A disseminação de notícias enganosas pode influenciar profundamente a opinião pública, afetar decisões políticas e manchar para sempre a imagem de alguém ou alguma empresa. Assim como aprendemos a usar o celular e o computador, também precisamos aprender a usar as mídias, a ler as notícias. A boa e “velha” educação midiática, que deu as caras lá na década de 1960, continua sendo uma ferramenta poderosa num contexto tão turbulento.
Cada dia é mais importante ensinar os cidadãos a produzirem e consumirem notícias de forma crítica, verificarem a veracidade das informações e confiabilidade das fontes. A ideia é fazer pensar e não apenas consumir notícias. E preciso digeri-las e, principalmente, relacioná-las.
A gente que trabalha diariamente com isso tem a sensação, muitas vezes, de que são dois passos pra trás e um para frente. Ou seja, quando liga o sinal vermelho, parece que há uma tomada de consciência maior, uma mudança ainda que sutil de comportamento. O ponto é que educação – midiática ou qualquer outra – não deveria ser encarada apenas como um conteúdo que eventualmente envelhece, mas sim o desenvolvimento de habilidades e competências que serão úteis para sempre, principalmente diante de um mundo em constante transformação.
No passo para frente, por exemplo, há uma pesquisa realizada pela Fundamento Análises, que mostra que sites de jornais, revistas, rádios e canais de TV ainda são o principal meio de informação para 29% dos entrevistados, enquanto portais de notícias o são para 24%. As redes sociais, por sua vez, são o canal primordial para 21% dos respondentes, sete pontos acima dos 14% na edição anterior da pesquisa, em 2018 (e aqui já ficamos um pouco mais ressabiados!).
Gráfico – jornal Valor Econômico
O levantamento indica também preocupação dos brasileiros com a potencial geração de conteúdo falso com recursos de Inteligência Artificial. Questionados sobre o uso da IA para a produção de conteúdo falso nas campanhas eleitorais, 86% se disseram preocupados com a manipulação de fotos ou vídeos falsos de candidatos em situações polêmicas, 88% com áudios adulterados, 90% com textos falsos como se pertencessem a veículos jornalísticos, e 88% com a criação de sites e posts falsificados.
Incrível é que pouco menos da metade das pessoas (42%) afirmam já ter recebido alguma notícia falsa manipulada por IA, e por volta de 43% não tem ideia se isso ocorreu. No passo seguinte, 45% afirmam já ter compartilhado uma notícia falsa e 47% não, já 8% não sabem dizer.
Segundo a pesquisa, que também foi divulgada em uma matéria do jornal Valor Econômico, quando desconfiam de uma notícia falsa, 42% dos entrevistados dizem verificar se a notícia está publicada em outra fonte confiável, como grandes veículos que fazem jornalismo sério, 27% acessam sites de checagem de notícias, e 21% procuram o assunto no Google ou outro buscador na internet. Apenas 1% verifica se o tema está nas redes sociais.
Importante lembrar que as mídias digitais trouxeram novos desafios para a comunicação de forma geral, e não apenas para a imprensa. A comunicação entre nós mesmos, direta. E se educar para isso tem a ver também com a forma como nos comunicamos. O combate às notícias enganosas é, portanto, uma responsabilidade coletiva que garante não apenas processos eleitorais confiáveis, já que estamos nos aproximando das eleições municiais, mas uma democracia forte e saudável.
E para quem quiser saber mais sobre a pesquisa: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/08/07/veiculos-tradicionais-mantem-credibilidade-perante-o-publico.ghtml