Está difícil não falar sobre Inteligência Artificial, principalmente para quem trabalha com comunicação. Por isso, ainda que seja sob o risco de nos tornarmos repetitivos, lá vamos nós de novo.
Você já ouviu falar sobre a Teoria da Internet Morta?
A ideia não é novíssima, mas tem, no mínimo, gerado mais atenção, ou curiosidade. A explicação é o fato da IA e do conteúdo gerado por robôs estarem dominando a internet.
Em 1969, em meio a guerra fria, o homem chegou a Lua e também inventou a internet, que nasceu como uma forma de trocar informação entre pessoas (ou instituições, naquela época) com menos risco de que um ataque inimigo, por exemplo, pudesse interromper esse fluxo e isolar alguma das partes. Ou seja, era uma ferramenta feita por pessoas para pessoas.
Hoje a internet é quase uma entidade e está em todos os lugares, no computador, no telefone, no relógio, na geladeira. Há poucos anos, alguns já diziam que a internet parecia morta, porque o algoritmo estava fazendo com as que as pessoas agissem como robôs. Agora, são os robôs que agem como se fossem pessoas!
E, veja bem, eles podem escrever, criar imagens e curtir! De acordo com uma pesquisa da empresa de segurança cibernética Imperva, os bots representam quase metade de todo o tráfego da Internet. Isso gera cria um ciclo vicioso de engajamento completamente artificial.
Mas por que isso acontece? Qual é ganho que isso traz? Será que se limita apenas a gerar mais receitas publicitárias? Ou há outros interesses menos claros – e talvez menos éticos? Seria o caso, por exemplo, da difusão de fake news em ano eleitoral?
Nas redes sociais, especificamente, como saber se uma conta é “humana” ou robô? Só porque ela tem um monte de seguidores, ela é confiável?
Um relatório do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo divulgado em junho de 2023, revelou que o número de pessoas em todo o mundo que acessam notícias por meio de um website ou aplicativo caiu 10 pontos desde 2018, e os grupos mais jovens preferem se informar pelas redes sociais, pesquisas ou agregadores móveis. De cair o queixo – pelo menos o nosso, jornalistas, é o fato de menos de metade dos entrevistados manifestaram muito interesse em notícias, uma queda significativa em relação aos 63% em 2017.
Em todos os mercados, 56% das pessoas dizem que se preocupam em identificar a diferença entre notícias reais e falsas na Internet – um aumento de 2 pontos percentuais em relação a 2022. Pelo menos isso! Ufa!
E daí, para finalizar a discussão – pelo menos por hora – uma das últimas colunas de Guilherme Ravache, no Valor Econômico, também toca nesse assunto, trazendo uma ideia para contornar a concorrência com IA no jornalismo. Vitor Conceição, CEO do Canal Meio, comenta que IA é um desafio enorme que a indústria vai ter que passar, mas que, de repente, ela vai matar o pessoal que roubou o espaço do jornalismo e quem trabalha bem vai pegar as coisas de volta.
Aqui do nosso lado do balcão – como produtores de conteúdo e leitores – a gente torce, e trabalha, para reestabelecer um pouco de humanidade à internet. E trazemos esse assunto para cá com o objetivo de lembrar que o pensamento crítico, cada vez mais, é crucial. Manter certa desconfiança, e outro tanto de curiosidade, pode nos ajudar a navegar por mares abertos, muito poderosos, mas também perigosos.
Referências:
The Guardian
The Conversation
Valor
Reuters